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terça-feira, novembro 14, 2006

Saúde: Grátis ou `Borla? (2 de 3)


A ler o Editorial do Jumento
"Felizmente o desenvolvimento científico permite que cada dia a medicina encontre a cura para uma doença ou o desenvolvimento de um novo fármaco, ao mesmo tempo que os cidadãos exigem mais e melhores cuidados de saúde. Infelizmente também surgem novas doenças ou novos medos, os vírus sofrem mutações, as bactérias tornam-se multiresistentes, o bem-estar gera as suas próprias doenças.
A Constituição da República estabelece os princípios do acesso universal aos cuidados de saúde e a sua gratuitidade, só que a realidade torna os dois princípios cada vez mais conflituosos, para além da gratuitidade ser uma falácia, pois pagamos os serviços públicos através dos impostos, os cidadãos querem cada vez mais e melhores cuidados de saúde ao mesmo tempo que exigem pagar menos impostos.Mas os que mais se opõem à cobrança de qualquer taxa nos serviços de saúde, são os mesmos que defendem as Scut, a isenção de propinas, tudo e mais alguma coisa grátis. E a solução para a falta de recursos sempre a mesma cobrar impostos aos que não pagam esquecendo esse objectivo deveria ter como contrapartida a redução dos impostos aos que estão sobrecarregados.
Quer se queira, quer não há uma economia da saúde, e partindo do princípio de que os recursos são escassos, uma má economia da saúde resulta em menos bem-estar e na redução da esperança de vida dos portugueses. Se o Estado gasta mais na gestão dos hospitais terá que reduzir os custos na prevenção, se gasta menos em prevenção aumentam os doentes hospitalizados, se gasta mais em hospitalizações os recursos escassearão nos medicamentos.Os custos da saúde continuarão a crescer e crescerão tanto mais quanto mais a medicina evoluir, será necessário não só encontrar soluções justas para o financiamento do Sistema Nacional de Saúde como gerir a saúde minimizando os seus custos e isso só é possível apostando nos cuidados primários de saúde, na medicina preventiva.
Do ponto de vista da economia do sistema nos últimos dias saíram do ministério da Saúde dois sinais contraditórios: a gestão das listas de espera denuncia que o SNS é prisioneiro dos doentes mais graves, adiando o tratamento das situações de menor gravidade, que por sua vez se agravarão e resultarão em custos de tratamento mais elevados. Por outro lado defende-se a aplicação de taxas nos internamentos e cirurgias.Não basta equacionar o financiamento, a economia é também a optimização dos custos e essa optimização passa pela minimização. E para minimizar custos são necessários mais médicos e apostar no combate a hábitos e comportamentos que custam fortunas ao SNS, do tabagismo ao alcoolismo, da sinistralidade rodoviária aos acidentes laborais.
Se assim não for feito para além de discutir taxas não só os custos crescerão exponencialmente, como o SNS estará cada vez mais virado para o tratamento dos doentes que deixaram agravar os seus problemas de saúde por não disporem de meios para recorrerem à medicina privada, aliás isso já está a suceder, basta olhar para entrar num hospital para o perceber."

A linguagem que todos entendem

Estava eu há dias a sair para o parque de estacionamento do C.C. Colombo quando fui abordado por uma senhora, que, com uma mão empurrava uma cadeirinha com uma criança a dormir; a outra trazia-a estendida para mim enquanto dizia algo que eu não percebia mas, deduzo que fosse para pedir algumas moedas. Como tinha ainda o parque de estacionamento para pagar disse-lhe que lamentava mas não a podia ajudar. Não sei se ela percebeu... No entanto, não pude deixar de reparar na criança que dormia sossegadamente, apesar do incómodo de estar numa cadeirinha que já era um pouco apertada para a idade da criança.
Nesse mesmo dia à noite, estava a tomar um café numa esplanada e a cena repete-se. A mesma senhora de mão estendida com a criança ainda a dormir na desconfortável cadeira. Achei inacreditável, pois nenhuma criança dorme daquela maneira sem ajuda de uma substância química ou alcool.
Apesar de escandalizado, senti-me na obrigação de lhe perguntar como é que a criança dormia tanto. Não consegui obter resposta, pois a senhora não queria ou não sabia falar língua nenhuma senão a dela.
Falei-lhe então na linguagem dela; e mostrei-lhe uma moeda de 20 cêntimos, perguntei se aceitava aquela moeda pois era o contributo que eu podia dar. Então, para minha surpresa, ela já falou para me dizer: "É pouco senhor...". "Pelo menos 5 Euros..."
O olhar dela revelava uma miséria tão grande que acabei por lhe dar 1 Euro.
Fiquei a pensar na pobreza em toda a linha da cena que tinha assistido... Como sou pai de uma criança com idade semelhante, imagino o sofrimento daquela e de outras crianças na mesma situação, e que futuro terão nas mãos daquela gente.
São um tipo de emigrante que Portugal dispensa em absoluto, é importante que o SEF esteja atento a estas situações e actue sem piedade sobre os adultos que controlam estas redes, retirando-lhes as crianças daquele sofrimento.