sexta-feira, setembro 01, 2006
domingo, agosto 27, 2006
Dedicado ao Diogo e ao futuro
As crianças, hoje em dia, não param de nos surpreender (a nós adultos). Por vezes são capazes de nos arrancar as emoções mais inesperadas que podem transformar um momento de dor num momento inesquecível.Foi o que me aconteceu ontem: estava eu e o meu filho Diogo, que tem dois anos e três meses, a passar uma tarde amena de Sábado a brincar num jardim, quando aconteceu um momento que eu ainda não consigo definir, pois, numa brincadeira mal calculada, magoei-o.
Ele começou a chorar e eu, ao aperceber-me da minha incúria, tive um sentimento de culpa que transformou completamente a minha expressão facial e deixou-me num estado de aflição muito visível. Ele, ao aperceber-se do meu estado, parou de chorar e disse-me: - Já passou papá! Não me contive..., vieram-me as lágrimas aos olhos. E, de repente, era eu quem chorava e ele a consolar-me como se, de súbito, se invertessem os papéis: ele a representar o papel de pai e de protector, e eu a representar o papel da criança acidentada. Que demonstração de personalidade ele me deu!!!...
Estou certo que para ele a dor continuava, mas ficou mais preocupado com a minha do que com a dele. Felizmente a sequela da brincadeira foi apenas uns arranhões para ele, mas para mim foram duas grandes lições: a primeira foi a de passar a ser mais cauteloso nas brincadeiras com ele; a segunda foi bem mais profunda, pois ele ensinou-me a reagir numa situação difícil.
Actualmente, vejo crianças a fazerem coisas incríveis, ouço-as a falarem coisas admiráveis e penso que esta geração que estamos agora a criar tem uma palavra muito importante a dizer no futuro. Estou convencido que se afirmarão em áreas bem mais importantes que a "grande área" (apesar do meu orgulho na nossa selecção) que são uma das muitas áreas do conhecimento.
Aposto que nesta geração de crianças teremos pessoas mais íntegras, políticos mais competentes, empresários com mais ética nos negócios e de sucesso mundial, escritores, cientistas... Eu ainda devo pertençer à chamada "geração rasca", mas é esta geração rasca que vai criar um futuro melhor para este nosso país.
Dedicada ao Diogo
Pedra Filosofal (Link)
Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.
eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.
Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.
Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.
In Movimento Perpétuo, 1956
António Gedeão